“Papai, com todo o respeito, o senhor entende de futebol.”

A afirmação dá uma boa noção da personalidade de Maria Clara Vizolli. Filha do ex-jogador e atual auxiliar fixo da comissão técnica do São Paulo, como indica o sobrenome, ela também trilha o caminho do esporte e, aos 14 anos, se destaca na patinação inline de velocidade.

“Fui fazer uma correção, mas minha correção não ajudou muito”, relembrou o pai sobre o episódio citado no começo do texto. “Ela prefere ouvir o treinador, o que está certíssima. É muito madura. Não tem o físico das outras atletas por causa da idade, é uma menina ainda, mas tem uma determinação enorme”, completou o pai.

Maria Clara entrou na patinação de velocidade por influência de uma amiga. “Ela me convidou para participar de uma aula e aí não parei mais”, contou. “Aprendi até que rápido, com vários tombos, mas faz parte.”

Atualmente, ela treina no Gotcha Roller Team, sob supervisão do técnico Marcel Lionese. No começo do mês passado, em Brasília, participou de uma seletiva para definição da seleção brasileira e se classificou para representar o Brasil nos Jogos Sul-Americanos da Juventude, que acontecem entre os dias 2 e 9 de maio, em Rosario, na Argentina.

“Ela é uma menina determinada, vem se destacando nas competições nacionais, possui um grande potencial dentro da modalidade”, afirmou Cindya Katerine Pardo, diretora técnica de patinação de velocidade da Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação e técnica da seleção. “Espero que os Jogos Sul-Americanos da Juventude sejam um grande motivador para que ela continue evoluindo e, em breve, consiga muitas conquistas pessoais e para o Brasil.”

Marcel Lionese reforça o elogio. “Ela tem todas as condições físicas e psicológicas de uma atleta de alto nível. É dedicada, disciplinada e tem um dom natural. Sua principal característica é seu foco.”

Maria Clara vai participar das provas de 1000m e de 10km pontos + eliminação. A modalidade ainda não faz parte do programa dos Jogos Olímpicos de Verão. A patinação de velocidade no gelo, conhecida como speed skating, é disputada na Olimpíada de Inverno. Talvez, por isso, há uma dificuldade para ser aceita pelo Comitê Olímpico Internacional.

Apesar de pouco difundida no Brasil é uma modalidade bastante apreciada em outros países da América do Sul, como Colômbia, Argentina e Chile, na Europa e Ásia. O problema por aqui é o que aflige diversos outros esportes: falta de estrutura. Há apenas um patinódromo no País, localizado em Sertãozinho, interior de São Paulo. Ao todo são 200 atletas filiados.

“Gostaria que o esporte tivesse mais visibilidade no Brasil. Só temos uma pista oficial e precisamos de pistas para treinamentos e campeonatos. Só conseguimos treinar em estacionamentos, quadras e ruas”, explicou Maria Clara.

A rotina de treinos, mesmo no improviso, é intensa, sempre conciliando com os estudos. Vizolli faz questão de acompanhar o desenvolvimento diário da filha quando o calendário do São Paulo permite. Maria Clara também fica sob os cuidados da mãe, Sandra. “Tento o máximo estar próximo”, afirmou o ex-jogador. “Por ter sido esportista, jogado em um grande time, eu tento acalmá-la, dar uma força”, afirmou. “É muito bom porque ele me entende e me ajuda dando todo apoio que preciso”, reforçou Maria Clara.

Agora, ao ser questionado sobre o que aproveita das características do pai como jogador, ela abre um sorriso: “Não muita coisa, só aquela vontade de ganhar do adversário.”

De fato, Vizolli era um volante na concepção da função, raçudo e marcador. Ele fez parte dos ‘Menudos do Morumbi’, equipe do São Paulo que brilhou na década de 1980, que tinha Müller, Silas e Sidnei, entre outros. A dedicação que tinha nos gramados agora está fora dele. “É o que o pessoal chama de paitrocinador”, comentou Vizolli. “É difícil conseguir um patrocinador, mas ela recebe, por exemplo, roupas da Onbongo.”

Maria Clara trata de fazer sua parte com os patins. Fã da argentina Jorgelina Anabel Achigar, ela foca primeiro nos Jogos Sul-Americanos da Juventude e depois no Mundial, no final do ano. A pouca idade, diante de rivais de até 18 anos, não intimida a filha do ex-jogador do São Paulo. “Treino forte sempre, porque eu estando bem, consigo fazer uma grande prova.”

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