O mercado de ações brasileiro vem se recuperando após um primeiro semestre de baixa generalizada. Mesmo assim, a Bolsa de Valores do país ainda possui papéis severamente desvalorizados, mas com potencial de crescimento.

A pedido da Folha, três especialistas listaram ações que foram derrubadas pelas turbulências geradas por crises externas, como a disparada da inflação global com a restrição da oferta provocada pela pandemia e pela Guerra da Ucrânia, e internas, como o crescimento do risco fiscal com o presidente Jair Bolsonaro (PL) ampliando gastos para melhorar as suas chances de reeleição.

Se por um lado o desfecho da guerra e o fim do processo inflacionário são difíceis de prever, o ambiente interno tende a ficar menos desfavorável após o período eleitoral. Essa é a principal variável considerada para a expectativa de recuperação das ações selecionadas.

A reportagem selecionou 15 ativos entre pouco mais de duas dezenas de indicações. O critério para exclusão foi o preço muito superior ao do período imediatamente anterior ao início da pandemia ou a presença de grande volatilidade neste momento, como é o caso do setor de commodities ligado à exploração e exportação de petróleo.

O múltiplo ou índice preço/lucro, indicador utilizado para medir o retorno de uma ação, foi o critério mais aplicado nas análises, mas não o único.

Os comentários também consideraram questões como a perspectiva de melhora da conjuntura que resultou na desvalorização dos papéis, além de expectativas específicas sobre cada empresa citada.

O Banco do Brasil tem “a ação negociada neste momento a múltiplos muito baixos”, segundo o analista Leonardo Oliveira, da Lumi Research.

Oliveira considera que, além de muito descontada em relação aos seus pares do setor privado, a ação do BB tem preço para um cenário muito pessimista para o banco, embora a empresa esteja distribuindo dividendos elevados e gerando rentabilidade sobre os seus ativos.

Empresas privadas controladas por estatais por estatais também tendem a se beneficiar com o fim do período eleitoral, de acordo com Oliveira. Ele cita o caso da Wiz, uma seguradora controlada pela Caixa Econômica Federal.

A empresa é, na avaliação do analista, um exemplo de companhia que está descontada simplesmente pelo temor de algum tipo de prejuízo eventualmente provocado por uma intervenção na Caixa.

Bradesco, por ser “o mais descontado dos privados”, e Itaú, “o melhor gerido” são apostas no segmento bancário para Idean Alves, chefe da mesa de operações e sócio da Ação Brasil Investimentos.

Alves também destaca o Banco do Brasil como sendo, para muitos, o mais barato entre os bancos e também o que mais “sofre com o risco político” e de “ingerência do governo”. Para o especialista, além do cenário externo incerto, o risco fiscal pune todo o setor.

“Uma economia mais fraca gera menos negócios e aumenta o risco de inadimplência, obrigando os bancos a aumentarem as provisões para devedores duvidosos”, avalia.

Sofrendo desde o começo da pandemia, o varejo tem empresas sólidas e tradicionais com ações extremamente desvalorizadas na Bolsa. Magazine Luiza, Via Varejo e Americanas são os principais exemplos, de acordo com Alves.

“As empresas caíram mais de 50% [neste ano], com um cenário econômico desafiador, política instável, inflação alta e desemprego”, comenta. “Podem se recuperar caso ocorra uma reversão na curva de juros.”

Entre as boas empresas consolidadas do setor varejista que também serão beneficiadas em caso de desaceleração da inflação e queda nos juros estão Vivara e Centauro, segundo o sócio da Brasil Investimentos.

É também apostando na expectativa de queda dos juros ele indica a startup do ramo de cupom de descontos Méliuz e as financeiras BTG Pactual e Banco Pan como apostas de longo prazo.

Também surrado pelo custo do crédito e inflação, o setor de construção tem espaço para melhorar na Bolsa, segundo Leandro Petrokas, sócio da Quantzed, empresa de tecnologia e educação para investidores.

“O aumento nas taxas de juros e da inflação reduz a renda disponível, bem como a alta com os custos de matéria-prima”, diz.

“Passando essa tempestade perfeita, é de se esperar que o setor volte a performar bem, especialmente as empresas que não possuem dívidas e que atuam em grandes centros”, afirma.

Ele chama a atenção para o potencial de crescimento da Mitre. A construtora atua na capital paulista em diversos segmentos, o que confere a ela capacidade de atender demandas de uma cidade com severo déficit habitacional. “Entendemos que os preços atuais não refletem a capacidade da empresa de gerar resultados a médio prazo”, comenta.

A distribuidora de combustíveis Vibra Energia entra na lista Petrokas porque, apesar da melhora na operação desde a privatização em 2019, quando deixou de ser subsidiária da Petrobras, a companhia é negociada abaixo do seu preço potencial na Bolsa.

“A empresa gera bastante caixa, paga dividendos razoáveis e está investindo em novos projetos dentro de outras linhas de negócios, como energias renováveis e distribuição de gás”, acrescenta Petrokas.

Também abaixo dos seus múltiplos, os preços das ações da Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina) não refletem a melhora dos resultados da companhia, segundo o sócio da Quantzed.

“A empresa está reduzindo alavancagem, melhorando sua estrutura de capital e tem um trigger [gatilho] a médio prazo que seria a sua privatização”, diz.

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