A indústria evoluiu em largas passadas para a Inteligência artificial e a robotização do processo produtivo. Foto: PT.

*Por Maurício Ferro

O caminho de maior visibilidade do Brasil na agenda internacional está intimamente conectado a uma economia verde. Todos os olhos estrangeiros associam o Brasil à Amazonia e seu potencial. Foi assim que Lula foi recebido de portas abertas nas suas viagens ao exterior com todos os líderes mundiais e é com esta agenda que o país conseguirá se inserir no grupo das maiores economias do mundo e trazer recursos para o país.

Mas, nesta semana os sinais dados pelo governo foram opostos à esta agenda. Primeiro o desmonte dos Ministérios do Meio Ambiente e Povos Indígenas. Depois uma disputa ridícula pela decisão do Ibama em negar licença ambiental na exploração de petróleo pela Petrobras.

Mais adiante declaração do presidente do BNDES de que as indústrias brasileiras precisam de subsídio (já manifestei minha total oposição a subsídio econômico para empresas privadas), e para terminar, declaração conjunta do Presidente Lula e do seu Vice Presidente Geraldo Alkmin, em artigo do dia 25 de maio, no Estadão, afirmando o compromisso com a reindustrialização. Todos estes fatos divulgados em conjunto, numa mesma semana, abalaram a agenda da economia verde do governo e, consequentemente, o caminho mais fácil para a inserção do país no século XXI. Adicione-se a isso, a pífia agenda voltada a educação de base e superior.

Esta obsessão pela agenda industrial parece descompassada das evoluções tecnológicas das últimas décadas. A industrialização moderna não será mais geradora de empregos como em outros tempos. Estes não existem mais. Ao contrário, a indústria evoluiu em largas passadas para a Inteligência artificial e a robotização do processo produtivo. Portanto, o caminho futuro de geração de emprego está na prestação de serviço qualificado e para isso fortes investimentos em educação serão necessários.

Incentivar recursos públicos para uma indústria velha visando exportar motores a combustão de etanol para África é sonhar pequeno. Apostar na indústria de semicondutores, como mencionado no artigo, é sonhar grande demais. Será que o Brasil deseja competir com Taiwan, China, e os Estados Unidos? No, citado artigo do Estadão pouco se fala de educação de base.

Quando os desenvolvimentistas citam os tigres asiáticos como exemplo de reindustrialização, esquecem de mencionar os regimes políticos, ou a inexistência de direitos trabalhistas e sociais destes países.  Lá, realmente houve pesado investimento público na indústria digital moderna para que pudesse competir com as potências ocidentais, mas também houve forte investimento em educação de base e ensino superior. Quantos engenheiros, analistas, cientistas de dados, desenvolvedores de aplicativos e programadores são colocados no mercado todos os anos por estes países?

No Brasil não teremos indústria de tecnologia sólida e não seremos um país digital, enquanto tivermos pouco investimento nos ensinos básico e superior. Uma indústria do século XXI não precisa só de dinheiro. É movida por cérebros. Se a promessa sobre reindustrialização é séria, deveria começar pelo Ministério da Educação.

Mas nesta semana o que vimos foi a tola irritação do Palacio do Planalto com o Ibama na exploração de petróleo próximo à foz do Amazonas. Em pleno 2023 ainda sobrevive o fetiche do “petróleo é nosso”? Vimos também um programa pífio para vender carro zero a menos de R$ 60 mil para uma classe média endividada, que mal consegue pagar suas contas.  Já a indústria verde, com os créditos de carbono, a exploração cientifica da biodiversidade e suas patentes vão ficando de lado, junto com as promessas de transição energética, investimentos em startups e a inserção do País na elite da economia mundial

Sei que a agenda da indústria verde e da educação não gozam de muito apoio e prestígio num Congresso reacionário com sede de verbas públicas. Mas daí ao próprio governo renunciar a suas “convicções”, se é que elas existem, é outra coisa.

Este governo precisa acordar, ainda parece perdido e melhorar suas articulações políticas, sua comunicação e priorizar suas ações no rumo da vocação econômica natural do país, com investimentos na indústria verde e na educação de base e superior. Para que o Brasil do século XXI seja diferente do Brasil do século XX, devemos parar de pensar pequeno e pensar grande.

*Maurício Ferro é advogado com mestrado e especializações realizadas em universidades como a London School e University of London. Cursou OPM na Harvard Business School. 

Wagner Sales – Editor de Conteúdo

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