Um agente da Polícia Federal caminha próximo à entrada do BRB, Banco de Brasília, durante uma operação contra a emissão fraudulenta de títulos de crédito por instituições financeiras, que resultou na prisão de Daniel Vorcaro, em Brasília, Brasil, 18 de novembro de 2025

Um agente da Polícia Federal caminha próximo à entrada do BRB, Banco de Brasília, durante uma operação contra a emissão fraudulenta de títulos de crédito por instituições financeiras, que resultou na prisão de Daniel Vorcaro, em Brasília, Brasil, 18 de novembro de 2025

Foto: Reuters / BBC News Brasil

O Banco Central decretou nesta terça-feira (18/11) a liquidação do Banco Master — mesmo dia em que a Polícia Federal (PF) cumpriu mandados de busca em diferentes endereços e após a prisão do dono do banco, Daniel Vorcaro.

A Polícia Federal deflagrou a Operação Compliance Zero, que tem como objetivo “combater a emissão de títulos de crédito falsos por instituições financeiras que integram o Sistema Financeiro Nacional”.

Policiais federais cumpriram cinco mandados de prisão preventiva, dois mandados de prisão temporária e 25 mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal, segundo nota da instituição.

“Estão sendo investigados os crimes de gestão fraudulenta, gestão temerária, organização criminosa, entre outros”, afirma nota da polícia.

A Agência Brasil noticiou que Vorcaro foi preso no aeroporto de Guarulhos na noite de segunda-feira, quando tentava embarcar para Malta em um avião particular. Ele está detido na Superintendência da PF, em São Paulo.

Nesta terça-feira, o Banco Central publicou atos do presidente Gabriel Galípolo decretando a liquidação extrajudicial do Banco Master (entenda mais abaixo o que significa a liquidação de um banco).

O Banco Central nomeou uma empresa — a EFB Regimes Especiais de Empresas — como responsável para liquidar a instituição.

E tornou indisponíveis os bens de controladores e ex-administradores do Banco Master: Daniel Bueno Vorcaro, Armando Miguel Gallo Neto, Felipe Wallace Simonsen, Luiz Antonio Bull e Angelo Antonio Ribeiro da Silva.

O Banco Master surgiu no final da década passada e ficou famoso no mercado financeiro por oferecer papéis com juros altos — e investir em empresas em situação financeira precária.

A estratégia fez que a instituição tivesse forte crescimento — mas também despertou críticas e desconfiança no mercado.

Também neste ano, o Banco Master ganhou as manchetes ao ser alvo de aquisição por outros grupos financeiros — em meio a notícias de que o banco apresentava problemas para honrar seus CDBs.

No começo deste ano, o BRB anunciou intenção de comprar o Banco Master, em um acordo estimado em R$ 2 bilhões.

A compra foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Também foi aprovada uma lei na Câmara Legislativa do Distrito Federal que autorizava a compra, que era defendida pelo governador Ibaneis Rocha (MDB).

No entanto, ela foi barrada pelo Banco Central, que analisou o negócio e concluiu que havia dúvidas sobre a “viabilidade econômico-financeira do empreendimento”.

Na segunda-feira, foi anunciado que o grupo Fictor Holding Financeira — que investe em áreas como alimentos, energia e serviços financeiros — havia feito uma proposta para comprar o Master, em conjunto com investidores dos Emirados Árabes.

Nesta terça-feira, a Justiça decretou o afastamento temporário do presidente do Banco BRB, Paulo Henrique Costa, e do diretor de Finanças e Controladoria da instituição, Dario Oswaldo Garcia Júnior.

As sentenças foram expedidas no âmbito da Operação Compliance Zero, que levou à prisão de Daniel Vorcaro. Em nota, o BRB confirmou que Costa e Júnior se afastarão de seus cargos por ao menos 60 dias.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que seu ministério está à disposição do Banco Central para ajudar com o caso.

“O Banco Central é órgão regulador do sistema financeiro e eu tenho certeza que, para ter chegado a esse ponto, todo esse processo deve estar muito robusto”, disse Haddad, segundo a Agência Brasil.

Quem é Daniel Vorcaro?

Natural de Belo Horizonte, o banqueiro de 42 anos vem de uma família de classe média alta do setor da construção civil.

No final da década passada, ele assumiu o controle do banco Maxima — que havia sido fundado nos anos 1970 — e rebatizou a instituição como Banco Master.

Vorcaro chamou atenção na Faria Lima — a região de São Paulo que concentra o mercado financeiro brasileiro — por uma estratégia de negócios considerada ousada: ao invés de captar a maior parte de seu dinheiro com correntistas e emprestando dinheiro, o Banco Master se concentrou em oferecer CDBs com taxas de juros muito acima das praticadas no mercado.

Os CDBs do Banco Master ofereciam juros perto dos 140% do CDI — muito acima dos cerca de 120% normais para bancos desse porte.

Com os recursos captados via CDB, o banco investia em empresas consideradas de alto risco — como Light e Oi — uma estratégia que era considerada perigosa demais para muitos analistas de mercado.

Em entrevista à revista Piauí, em outubro do ano passado, Vorcaro atacou os críticos de seu modelo, e disse ser vítima de preconceito por suas origens empresariais serem fora do mercado financeiro.

“Isso acontece por eu ser um outsider. E não é só preconceito. São pessoas que querem nos frear e ficam usando coisas ruins contra nós. É um ataque desnecessário.”

Vorcaro também ficou famoso por grandes gastos e por ostentar uma vida de luxo.

Em 2003, junto com outros sócios, ele comprou o hotel de luxo Fasano Itaim — que foi posteriormente vendido.

Também em 2023, segundo notícias da imprensa, ele teria gasto R$ 15 milhões na festa de debutante de sua filha, com apresentação dos DJs The Chainsmokers e Alok.

Este ano, o jornal O Estado de S. Paulo noticiou que Vorcaro adquiriu 27% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do clube Atlético Mineiro.

Por que Banco Master está sendo liquidado?

As investigações da PF sobre o banco tiveram início em 2024, após pedido do Ministério Público Federal. A investigação estava concentrada na possível emissão de carteiras de crédito falsas.

Essas carteiras teriam sido vendidas a outro banco e, após fiscalização do Banco Central, substituídas por outros ativos sem avaliação técnica adequada, segundo a Polícia Federal.

O Banco Central tomou a decisão de liquidar o Banco Master com base em uma lei de 1974 que prevê essa medida quando uma instituição financeira apresenta riscos relevantes — como inadimplência, violação grave de normas e prejuízos que exponham credores a risco considerado anormal.

As autoridades monetárias poderiam ter optado por uma intervenção judicial, em que um interventor é nomeado para assumir a administração do banco com intenção de fazê-lo voltar a operar.

No entanto, a opção escolhida foi a liquidação do Banco Master e da Master Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários.

O objetivo da liquidação é encerrar as operações das instituições. Um liquidante é nomeado para levantar os bens das instituições e realizar o pagamento de todos os seus credores.

Além disso, com a liquidação, é acionado o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), uma associação mantida pelos bancos que protege correntistas, poupadores e investidores de instituições financeiras em situação de risco.

No caso do Banco Master, muitos investidores possuíam CDB, que é um tipo de título emitido pelo banco, com pagamento de juros.

O FGC protege investimentos de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição financeira. Qualquer valor acima desse limite não é coberto pelo FGC — e só poderá ser recuperado a partir do processo de liquidação e venda dos bens do banco.

Outra parte do conglomerado, o Master Múltiplo, foi colocado em regime de administração especial temporária, em que as autoridades ainda tentam recuperar a instituição.

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