Tenho um arrepio na espinha quando vejo economistas com pedigree, nobres deputados e senadores e cidadãos criados no leite de pera virem a público para dizer que, neste momento, sacrifícios precisam ser feitos para evitar que o Brasil quebre. Mas empurram apenas à xepa para ser imolada no altar do que chamam bom senso. E se alguém lembra “e os ricos?” é chamado de burro. Ou comunista.

Daí vem uma enxurrada de ideias que começam com o fim do aumento real do salário mínimo, passam por mudanças no investimento constitucional em educação e saúde que beneficia o povaréu até a desvinculação dos benefícios previdenciários e assistenciais desse mínimo.

Desvincular significaria que o reajuste anual desses benefícios ocorreria apenas pela inflação ou, talvez, nem isso. Com o passar dos anos, a situação distanciaria o seu valor do mínimo salário vigente — que voltou a ter ganhos reais, ou seja, acima da inflação, desde o início do terceiro governo Lula.

Constrói-se, aos poucos, e silenciosamente, a ideia de que o Brasil não aguenta pagar o mínimo para garantir uma vida digna a quem não está na ativa e aposentado. Lembrando que ele vai para R$ 1.621, bem longe dos R$ 7.067,18, calculados mensalmente pelo Dieese, a fim de cumprir o mínimo constitucional e garantir vida digna a uma família.

Viver uma democracia não é apenas ter liberdade para investir e ganhar dinheiro, mas também dividir as responsabilidades nos momentos de dificuldade. Direitos e deveres vêm de mãos dadas na Constituição. Mas a democratização do chicote provoca pavor em muita gente do andar de cima e naqueles que defendem os mais ricos mesmo não tendo aonde cair morto.

Pequeno gafanhoto, calma, não estou aqui defendendo que os pobres não entrem no grande esforço nacional, até porque eles são sempre os primeiros a serem apontados como “voluntários” para tanto. Estou falando de isonomia, com cada qual contribuindo de acordo com suas possibilidades e sob a luz da Justiça social e tributária que é o espírito da Constituição de 1988.

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